–> Freixo não é Gabeira!

Foi essa a frase que mais ouvi hoje, sobretudo nas tevês cobrindo a boca de urna e a apuração dos votos. E não há como discordar. De fato, Marcelo Freixo não é Fernando Gabeira. Freixo não lutou na guerrilha, não sequestrou embaixador, não foi exilado, não escreveu livro. É certo que ambos foram às telas do cinema, mas só o segundo chegou ao Oscar, não é mesmo? Marcelo Freixo é jovem, Fernando Gabeira é velho. Ambos são de pequenos partidos, mas Freixo está à esquerda e Gabeira, vejam bem, está no PV. De fato, Freixo não é Gabeira. Não fechou coligação com qualquer um em nome de pressionar o segundo turno contra Eduardo Paes e jamais apoiaria pessoas como José Serra.

Conheci Freixo quando, de São Paulo, me surpreendi com uma CPI das milícias. Sabem como é, a fama do Rio de Janeiro é péssima por aqui, afinal, lá a cidade é violenta, tomada pelo crime e aqui corre tudo às mil maravilhas, não é mesmo?! Portanto, a figura daquele jovem político engajado numa verdadeira guerra em busca de justiça e liberdade para a população mais pobre me chamou muita atenção. Meu contato com Freixo foi esporádico desde então: após à CPI, novamente voltei a ele quando foi o segundo deputado estadual mais votado do estado mesmo estando num partido pequeno; foi aos cinemas em Tropa de Elite 2, até que então, foi escolhido como o candidato do PSOL à prefeitura do Rio de Janeiro em 2012.

Então comecei a acompanhar mais de perto. Vi a entrevista no Roda Viva, a entrevista a Juca Kfouri, páginas na internet. Juntei-me aos que acreditam que “Nada deve parecer impossível de mudar” e passei a acompanhar a construção da Primavera Carioca. A cada dia dessa campanha me surpreendi mais com o que Freixo dizia. Do debate na Rede Bandeirantes ao debate na Globo, passando pela sabatina na Folha e as entrevistas nas mais diversas mídias. Nunca vi candidato tão preparado ao mesmo tempo que tão espontâneo. Desde “Pelo visto o prefeito continuará silenciando sobre o metrô.” até “Que sorte hein?!” (quando, pelas regras do debate, não poderia fazer uma segunda pergunta a Eduardo Paes), passando por todas as vezes em que disse “Não estou insinuando, estou afirmando e os fatos provam.”. Freixo provou ser inenarravelmente superior a Paes, em todos os sentidos. Só não em cara de pau, máquina partidária e eleitoral, partidos (quaisquer) na coligação e dinheiro que sabe-se lá de onde vem (na verdade, todos sabemos) financiando as campanhas mentirosas.

Mas Freixo teve, além e apesar de tudo, a campanha mais bonita que eu já vi, talvez (pra não dizer com toda a certeza possível) a campanha política mais bonita já feita desde as diretas (que eu não vi, mas já entraram para a História), guardadas, obviamente as devidas proporções e motivações de cada uma delas. Da citação de Brecht à simplicidade de fitas amarelas e o exemplar uso das redes sociais. 10 dias na cidade do Rio de Janeiro, entre um arquivo e outro, me fizeram experienciar algo que jamais pensei viver. Aquele tipo de coisa que a gente que estuda História (mas não só) lê nos livros e pensa: “Eu queria estar lá.”. A cada caminhada pelo centro eu só pensava: “Quero votar no Freixo!”. Já que, por enquanto, não dá, contentei-me em andar com adesivos e fazer campanha para ele com as pessoas que encontrava por lá. Vê-lo falar no centro da cidade, em cima de algo como um banquinho/caixote, simples, com um sorriso no rosto e a firmeza de quem tem a razão tinha sido o ápice de toda essa trajetória de acompanhamento meu da figura de Freixo.

Tinha sido, até que, já de volta em São Paulo, assisti aos vídeos e vi as fotos do Comício na Lapa. Aquele foi o momento em que eu mais quis na vida morar no Rio de Janeiro e, vejam bem, o clichê pôr-do-sol no Arpoador já tinha me feito dizer essa frase inúmeras vezes. Em nenhum momento senti tanta emoção de ver algo como aquele comício. Foi, provavelmente, a primeira vez que vi um político chorar sinceramente e, com certeza, a primeira vez que chorei com política. Chorei de novo com o último programa que foi feito para o horário eleitoral e com o vídeo do abraço no Maracanã, mas aí virou rotina.

É, como imaginei (e eu vinha imaginando a postagem que faria ao fim do primeiro turno no Rio de Janeiro há bastante tempo) o texto ficou bem romântico. Não poderia ser de outra forma mesmo, há certa porção de amor e paixão, que passam por muita admiração e confiança na figura de Marcelo Freixo, que ainda é professor de História, companheiro de classe e estudo. E, de qualquer forma, há algo de romântico na esperança.

Desde a redemocratização, somente um prefeito foi eleito em primeiro turno na cidade do Rio de Janeiro, foi ele César Maia (2004) e sua gestão desastrosa que, no entanto, ainda não foi suficiente para que os cariocas aprendessem. Talvez, o façam com a continuidade do desastre que é a gestão de Paes. Que essa campanha linda e esses quase 30% dos votos sirvam para impulsionar nova campanha de Freixo e a difusão da ideia de que a política é para todos e deve ser por todos. Sobretudo, que existem sim políticos dispostos a agir em nome de todos.  Marcelo Freixo é o verdadeiro homem novo para um tempo novo. Marcelo Freixo representa a esperança.

Freixo não é Gabeira. Ainda bem!

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7 respostas para –> Freixo não é Gabeira!

  1. DIego disse:

    2016 PODE CORRER MAIS NÃO PODE SE ESCONDER. HE É FREIXO, HU É FREIXO!!!!!

  2. Gustavo Queiroz disse:

    Só uma correção: Freixo é Deputado Estadual. 😉

  3. Marilia disse:

    Parabéns pelo lindo texto, Mariana! Eu, que vi a campanha das DIretas bem jovenzinha, cheia de esperança, hoje continuo… cheia de esperança! Graças a pessoas como Freixo e como vc: não estamos sozinhas. Nunca. Abraço carinhoso!

    • Mariana Rosell disse:

      Obrigada pelo elogio, Marilia. A campanha de Freixo mostrou que é possível fazer diferente, fazer política diferente. Enquanto houver pessoas que sonham e têm disposição para lutar tudo pode mudar!
      Até. =)

  4. Marilia disse:

    Ah! Eu tenho a idade de Marcelo Freixo (45). Obrigada pelo jovem! (nem tão jovem…) hahahahaha!!!!

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